ontem, vinhas no vestido rasgado, no vestido sujo,
o vestido era curto. tinha pó.
tinha vergonha. tinha angustia espelhada.
tinha medo e loucura, e era vermelho.
hoje, despiste o teu vestido.
tinhas vergonha dos rasgões, do pó,
da angustia que ela deixava transparecer.
quiseste esconder o medo e a loucura do teu vestido vermelho.
despiste o teu vestido.
deixaste a nu a tua alma negra.
e agora queres procurar o teu vestido.
mas já alguém o lavou,
já alguém o cozeu,
já alguém o engomou.
e agora anda outro alguém com o vestido vermelho.
a tua ganancia e a vergonha do tempo que passou pelo teu vestido deixaram-te nua.
nua, numa alma negra.
1 comentário:
fantastico... escreves mesmo muito bem... como e que consegues?
parabens...
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